quarta-feira, 12 de outubro de 2011

A lagarta que tinha medo de virar borboleta

Essa semana me foi dada uma tarefa: escrever uma metáfora! O resultado me lembra um pouco historinhas infantis...Tá, chega de explicações! Dá uma espiadinha no texto:


Uma lagarta sempre será uma lagarta. Pelo menos, era assim que Alice dizia que seria com ela, uma lagartinha que vivia no tronco de uma frondosa árvore no meio da floresta. Olhava as bonitas borboletas e, incrédula, não achava possível que aquelas lindas e coloridas criaturas um dia pudessem ter sido iguais a ela. Mesmo que seus pais insistissem que era um processo natural, pelo qual todos passavam, tinha dificuldade de crer que daria certo.

Alice, na verdade, nutria enorme vontade de se transformar em uma maravilhosa borboleta, mas tinha medo da frustração. Por esse motivo, preferia se defender e não acreditar em sua metamorfose. Era sonhadora, mas não se jogava de cabeça em busca do seu desejo. Temia se tornar uma borboletinha medíocre e sem graça e, assim, fazer ruir o sonho tão doce. Ficava amedrontada com a hipótese de, na vida adulta, não conseguir ser útil para espécie, o que a faria infeliz.

Na época de começar a tecer os fios de seda para confeccionar o seu casulo, a lagartinha passou a fazer corpo mole. Sabia que, depois de pronto, o casulo serviria de proteção durante a evolução para fase adulta. Precisaria criar asas, deixar a casa de seus pais e ganhar o seu próprio sustento. Decidiu - mesmo sonhando em conquistar o mundo com as asas - que o melhor era não se arriscar rumo ao incerto. Foi, então, que perguntou à mãe se poderia ser lagarta até o fim da vida. A borboleta logo respondeu:

- Minha querida, a escolha é somente sua. Você pode deixar de fazer o casulo e ser sempre uma lagarta...

Alice a interrompeu e disse que essa era a alternativa mais consciente. Como lagarta, já sabia viver. Seria mais fácil e menos doloroso. Afinal, até gostava de ficar rastejando pelas árvores, de juntar as folhinhas que caíam pelo caminho, de brincar com as outras lagartinhas.

A mãe, com seriedade e sabedoria, prosseguiu:

- Mas lembre-se: Deus não a fez para ser somente uma lagarta. Ele também quer que você voe. Ele quer mais de você. Concordo que será mais fácil continuar como está, porém não terá desafios! Nunca desfrutará do prazer e da responsabilidade de ser uma borboleta. Não experimentará o aprendizado e não viverá o propósito para o qual foi criada.

Pensativa, a filha indagou:

- Como poderei ter segurança que, após sair do casulo, eu me transformarei em uma borboleta deslumbrante? Como saberei se a evolução dará certo, se minhas asas funcionarão, se encontrei um modo de servir a minha espécie?

- Você nunca terá essa segurança. Nós não podemos prever o futuro. Só podemos trabalhar, no presente, para tentar fazê-lo dar certo. Qual é o seu mais profundo sonho: ficar lagarta ou aprender a voar?

-Sinceramente, é ser uma linda borboleta como você, mamãe. Mas acho que não tenho coragem suficiente para assumir os riscos do processo.

- Viver é se arriscar. Com medo de destruir o seu sonho e virar uma borboleta infeliz, você viverá infeliz como lagarta. Só depende de você. Trabalhe com todas as suas forças na direção do seu sonho e ele terá muito mais chance de ser real.

Após essa conversa, Alice ficou perturbada. No dia seguinte, lembrando do que a mãe havia dito sobre andar em direção aos sonhos, foi pesquisar qual a maneira mais indicada para uma lagarta se preparar para metamorfose. Na escola, observou as amigas que já haviam começado a tecer o casulo. Pediu às professoras que a ensinassem lições sobre essa tarefa. Além disso, procurou, na biblioteca dos pais, livros sobre a vida das lagartas. Descobriu que se alimentar bem era um requisito importante.

Estudou bastante antes de agir. Inicialmente, não tinha muita esperança naquilo. Entretanto, à medida que ia se preparando, o sonho já não parecia tão inacessível. O medo começou a diminuir e a fé se renovou. Aos poucos, iniciou a tarefa. Comia muitas folhas para ficar forte e passava horas a fio trabalhando com esmero na confecção do casulo. Quando, angustiada, pensava em desistir, voltava a lembrar das palavras da mãe.

Dois meses depois a sua casinha ficou pronta. Era hora de entrar lá e mudar de forma. Aproveitou bem o seu último dia como lagarta: foi à aula, deu adeus aos amigos e pediu a Deus que cuidasse da sua evolução. Enfim, com grande coragem - que renasceu através da ação - entrou no casulo.

Uma semana mais tarde, rompeu o esconderijo. A alegria a invadiu por inteiro ao perceber que estava voando. Foi rápido se olhar no espelho e quase caiu para trás ao contemplar sua beleza. Como estava linda e forte! Agora, era madura e teria responsabilidades de um adulto. Ainda não sabia muito bem o que a esperava, quais obstáculos teria pela frente, mas aprendeu que tudo dependia de como iria encará-los.

Havia realizado seu grande sonho e estava convencida de que precisava encontrar outros desafios. E, assim, Alice se despediu de seus pais, deixou a frondosa árvore da infância e foi à procura de novos planos e metas. A mais bela borboleta daquela floresta saiu feliz a voar pelo céu, querendo descobrir do que mais era capaz.

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