terça-feira, 18 de outubro de 2011

Aprendendo a lidar com o inevitável

Quando os primeiros raios de sol entraram pela fresta da janela anunciando um novo dia, ela quis se esconder. Contrariada, esforçou-se para levantar e enfrentar mais uma manhã. Mentalmente, tentava se convencer que só tinha motivos para estar feliz. Apesar de ainda esperar por algumas concretizações de sonhos – que pareciam, às vezes, tão longes e incertos -, esse momento de espera a estava ensinando a olhar para os lados. Tinha decidido que iria se doar mais aos outros, ao invés de focar em seus problemas. E as razões de agradecimento não faltavam: uma cama quentinha, comida, uma família, alguém para amar, amigos.

Mesmo se lembrando de cada dádiva e das resoluções que havia feito, naquele dia, a angústia veio a importunar. Um nó na garganta a acompanhou durante as tarefas cotidianas. Chegou a se esquecer dele por alguns instantes, enquanto almoçava, mas, em seguida, o sentimento voltou.

Estava lindo lá fora. Ela até olhou pela janela, entretanto, não ousou sair.  Queria ficar no seu cantinho. Sozinha, com seus pensamentos.  A inquietação era constante e isso a irritava. Sentia-se triste por estar triste, pois achava que não tinha esse direito. Angustiar-se por quê? Já havia aprendido que o melhor era esperar. Já tinha iniciado, ainda que lentamente, a correr em busca dos sonhos. Sabia que estava em um momento de autoconhecimento importante, porque estragar tudo? Tentava descobrir os motivos daquela incontrolável angústia, que vinha com tanta força. Pensou, pensou e nada.


Insistia em fazer algo que a afastasse dessa incomodação. O resultado, porém, foi nulo.
Com o passar das horas, percebeu que  precisava aprender a não ser tão exigente consigo mesma. Não sabia ao certo o que a estava deixando daquele jeito. No entanto, sabia que enquanto negava essa sensação ou tentava encontrar explicações racionais, só aumentava sua intensidade.  Foi, então, que decidiu parar de se enganar. Permitiu assumir que, a despeito de tudo estar, aparentemente, em ordem, ela não estava.

Na solidão de seu quarto, enquanto a primavera brilhava lá fora, chorou. Caiu em prantos, sem conhecer bem o porquê. As lágrimas foram desfazendo o nó na garganta que a acompanhava desde o amanhecer.  Aos poucos, esvaziou-se da angústia e da dor que a perturbavam.

Entendeu que ficar triste não era, necessariamente, esquecer-se dos motivos que tinha para sorrir e nem abrir mão de tudo o que estava aprendendo. É claro que não queria curtir a tristeza, mas se deu conta que, em determinados momentos,  ela seria inevitável. Talvez fizesse parte de seu aprendizado perceber que não deveria brigar com seus sentimentos, somente aceita-los e tentar compreendê-los melhor. Talvez até, diferente do que havia pensado no início do dia, tivesse o direito de se sentir assim de vez em quando. Afinal, era um ser humano, em toda a sua complexidade.

Logo após, organizou os seus pensamentos e renovou as suas forças. Tomou um banho, trocou de roupa e se enfeitou. Certa de que aquele choro a havia dado ainda mais coragem e vontade de viver, saiu para aproveitar os últimos raios de sol com um grande sorriso nos lábios.

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