quinta-feira, 21 de outubro de 2010

O Brasil nos olhos de uma criança

Em um domingo como muitos outros fui, junto à minha família, almoçar em um restaurante na praia do cassino, mas nesse dia algo diferente aconteceu. Ao sairmos do restaurante, avistamos três crianças índias vendendo objetos artesanais,o que é muito comum nessa praia na época de verão.Porém, um delas, um menino em especial,me impressionou. Ele era lindo, entretanto, naquele rosto tão jovem já havia marcas de profundo sofrimento. Percebi, ainda, que seu olhar era vazio e que ele possuía uma face triste e cansada. Minha família e eu nos aproximamos e brincamos com ele, mas não houve sequer o esboço de um tímido sorriso.Seus olhos negros, perdidos, cheios de tristeza e de melancolia, denunciavam, apesar da tenra idade, a amargura de alguém sem expectativas quanto ao futuro. Sua vida não era mais a de um garoto, pois já pesava sobre ele responsabilidades muito grandes.

Pude entender naquele momento, enquanto meus olhos tentavam penetrar a alma do menino, que ele era mais uma vítima de um sistema social opressor e individualista. Enquanto existem crianças estudando nos melhores colégios particulares, recebendo de seus pais inúmeros brinquedos caros, outras já trabalham para poder se alimentar. Enquanto nós, muitas vezes, desperdiçamos comida e a jogamos fora, outros correm nos lixos para comer nossos restos. Enquanto uns têm mansões, outros têm como moradia as ruas, as pontes, os viadutos. Enquanto poucos posssuem condições finaceiras para consultar um bom médico particular, muitos morrem nas intermináveis filas do SUS sem receber nenhum tipo de atendimento. Enquanto aquele indiozinho parecia um adulto, ultrapassando a etapa mais bonita da vida, outros aproveitam,intensamente, a infância.

Quando tudo isso irá mudar? Pode soar um tanto utópico e exagerado, mas eu e você, leitor, temos um papel importante e decisivo na tentativa de reverter esse quadro de injustiças sociais: temos o poder do voto, poder para escolhermos políticos com propostas concretas, que sejam autênticos representantes do povo. Além disso, temos o direito e o dever de reivindicar a participação da população nas decisões governamentais e de exigir a implantação de políticas públicas eficazes que garantam maior eqüidade social. Não podemos perder a esperança de um Brasil mais justo, pois somente quando atentarmos para nossa capacidade de transformar através da ação e da contestação e para o imenso poder de nossas vozes, teremos a oportunidade de conseguir um futuro digno para nosso país, em que todos usufruam dos mesmos direitos. Talvez, assim, possamos ver as crianças brincando, estudando, tendo esperanças, sorrindo com um olhar sonhador e brilhante, enfim, vê-las apenas sendo crianças, deixando para trás um Brasil desigual refletido para mim, naquele inesquecível domingo de verão, nos olhos do indiozinho. (Texto redigido em 2008)