terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Existe democracia no Brasil?



Nos últimos dias, vimos o presidente (golpista) Temer se pronunciar sobre a falta de democracia na Venezuela...E não, não é sobre a Venezuela que eu quero falar!


Temer assumiu o governo do país após orquestrar o impeachment de Dilma Roussef. Apesar de ser vice e de, inclusive, ter assinado pedalas fiscais, seguiu ileso no processo. As forças reacionárias do congresso nacional votaram a favor da derrubada de uma presidente eleita sem que houvesse elemento jurídico para tal. Escutamos, atônitos, os parlamentares justificarem seus votos pelo conjunto da obra, por Deus e pelo fim da corrupção. E as tais pedaladas fiscais, aquelas que serviram apenas de desculpa para a derrubada do PT do poder, foram liberadas por lei pelo congresso apenas dois dias após o impeachment (http://www.jb.com.br/pais/noticias/2016/09/02/apos-impeachment-senado-transforma-pedaladas-fiscais-em-lei/).

Hoje temos um presidente que possui 95% de rejeição. Mesmo após ser gravado tendo conversas pra lá de duvidosas com o empresário da JBS, está de pé. Foi blindado. As malas de dinheiro, as gravações, as delações, nada foi suficiente para que os “representantes” do povo permitissem que Temer fosse investigado. Aliás, diante de todos, vimos um presidente comprar parlamentares com dinheiro público para se safar de possível condenação.
Se nos governos de Dilma já estávamos sentindo a recessão e o aumento do desemprego, se as controversas propostas de reformas e de ajuste fiscal já apareciam, agora o ritmo dessas mudanças é outro. Como um rolo compressor, vemos, dia a dia, a aprovação de medidas que esmagam nossos direitos. Em pouco tempo, há retrocessos por todos os lados. Alguns deles: PEC do teto dos gatos, lei das terceirizações, reforma trabalhista, PDV para servidores públicos federais, MP 759 (http://amazonia.org.br/2017/07/temer-anistia-grilagem-de-terras/), cortes de recursos que afetam a fiscalização do trabalho escravo no país (http://g1.globo.com/economia/noticia/fiscalizacao-do-trabalho-escravo-cai-e-verba-do-setor-termina-em-agosto-dizem-entidade-e-sindicato.ghtml), redução do orçamento das universidades federais (http://cbn.globoradio.globo.com/especiais/universidades-em-crise/2017/07/10/UNIVERSIDADES-FEDERAIS-DO-PAIS-SO-TEM-DINHEIRO-PARA-PAGAR-CONTAS-ATE-SETEMBRO.htm) e corte de bolsas de pesquisa (http://www.anpg.org.br/cnpq-paga-45-menos-bolsas-de-mestrado-e-doutorado-em-2017-comparado-com-2015/).
A próxima tentativa do governo é a reforma da previdência, a sua principal bandeira. Assistimos na mídia, rotineiramente, a defesa de que essas ações são necessárias para o progresso do país, mas não se fala sobre os questionamentos da real existência do déficit (http://brasildebate.com.br/a-previdencia-social-nao-tem-deficit/) ou da dívida previdenciária das empresas (http://economia.ig.com.br/2017-02-21/previdencia-social.html). Os sacrifícios sempre são exigidos dos trabalhadores, enquanto o lado mais forte continua a sustentar seus privilégios. E mesmo com a rejeição da maior parte da população, o executivo não recua.
Isso tudo, reforço, representa um projeto político que perdeu nas urnas em 2014. Essas mudanças tão impactantes são feitas sem levar em conta o que a sociedade quer. Os parlamentares são, há muito, representantes de seus próprios interesses. Aliás, representantes dos interesses econômicos daqueles que os elegeram, através de doações milionárias de campanha.
Assistimos a tudo meio atordoados, apáticos. A sensação é que não há luz no fim do túnel. Parece que o sistema foi muito eficiente ao nos fazer acreditar que não há alternativas. De mãos atadas, não vemos opção. É preciso construí-la, mas a sensação é que estagnamos diante de tanta desesperança.
E eu poderia escrever muito mais, pois temos muitas mazelas. Vivemos em um país de profunda desigualdade social. Existe uma parte do Brasil que não tem perspectiva alguma em relação ao futuro. Um país em que a maior parte da população sofre para ter acesso a serviços básicos de saúde e educação, em que muitos nunca tiveram a carteira assinada. O mesmo Brasil que sustenta castas como a do judiciário e a do legislativo, que não têm vergonha de ostentar seus ganhos astronômicos enquanto a maioria da população vive em dificuldade. E tem gente que ainda insiste em defender a meritocracia.
Vivemos em um país em que as leis não são para todos. Alguns falam em estado democrático de direito, mas pra quem mesmo ele funciona? Aqui, como diria Humberto Guessinger, uns são mais iguais que os outros, vide o caso do filho da desembargadora e o de Rafael Braga. As prisões degradantes encarceram, em sua maioria, negros e pobres.
Assistimos o prefeito da maior cidade do país acordar moradores de rua com jatos de água. Nas periferias do Rio, um estado que sangra por causa da corrupção e do descaso, bebês já morrem antes mesmo de nascer, em meio a uma guerra civil em que não há vencedores. A violência já não é mais privilégio da periferia, ela invade os bairros de classe média, toma as ruas. E aquele direito de ir e vir, existe mesmo? Aliás, e aqueles direitos que estão lá na nossa constituição, existem mesmo? Pra quem? Temos liberdade e igualdade?
Diante de tudo isso, volto ao início. Temer denunciou a falta de democracia na Venezuela...mas e a nossa democracia, ela existe? Aliás, ela um dia já existiu?

Escrito em 09/08/2017

Eles sempre escolheram estar...



Parece banal, mas não é. Hoje meus pais foram me levar a Pelotas para fazer uma prova.

Eu, uma mulher de trinta anos, levada pelos pais para fazer um prova! Eu que sei dirigir, que estava com o carro na garagem, que poderia ter ido até mesmo de ônibus. Eu que tenho a minha independência e que não precisaria tirá-los de Rio Grande para isso. Mas eles fizeram questão. Eles sabem que não precisavam ir, mas quiseram me levar. Não era necessário, não era indispensável, mas eles foram.

E como se não bastasse, depois de quatro horas, quando saio com a ideia de ir pegar o ônibus na rodoviária, escuto uma buzina: eram eles. Eu sei que deve ter sido muito chato ficar esperando durante quatro horas, mas a despeito de tudo, eles escolheram estar ali. E é isso que eles sempre fizeram quando houve possibilidade: eles sempre escolheram estar ali, eles sempre escolheram estar, durante todos esses anos. E assim como eles me ensinaram tão bem, quero sempre estar aqui pra eles. E espero que eles sabiam que apesar da independência e de já ser adulta, a presença e o apoio deles sempre serão fundamentais na minha vida.

E a prova? Eu nem sei se me saí bem, mas estou feliz. Sei que já tenho tudo o que preciso nessa vida.
Escrito em dezembro de 2016

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Meus pedidos para 2014


Se eu tivesse o poder de mudar algo em 2014, os pedidos não seriam pra mim.

Eu desejaria menos injustiça, menos descaso com os marginalizados. Menos marginalizados. Eu desejaria governos que quebrassem a lógica desse capitalismo selvagem que consome vidas e sonhos.

Eu desejaria que a política não se transformasse em Grenal. Desejaria que nesse ano eleitoral a gente tivesse menos marketing, mais discussão ideológica. Desejaria que as pessoas tivessem mais interesse pela realidade do país, mas pra isso, elas precisariam ter uma educação crítica, que as ensinasse a pensar sobre o Brasil.

Desejaria que 2014 fosse o ano da reforma política, do marco civil da internet, de pequenos avanços que demoram tanto a sair do papel. Gostaria que o clima de inconformidade visto em 2013 fosse amadurecido. Que as pessoas começassem a pensar o que, efetivamente, desejam de melhoria e que os brasileiros ocupassem os espaços de participação já existentes. E mais: que esses espaços se ampliassem, que houvesse mais mecanismos de democracia direta, de consulta popular.

Que as pessoas percebessem que os políticos não são alienígenas. Que não nos esquecêssemos que eles fazem parte da sociedade que vivemos. Desejaria que muitos parassem de criticar a corrupção da camada superior, enquanto cometem seus pequenos deslizes, com o famoso jeitinho brasileiro. Que percebessem que a diferença de roubar lá em cima  e de ser um funcionário público que leva material da instituição pra casa é só a oportunidade.

E, principalmente, se eu tivesse o poder de mudar o mundo, eu despejaria muito amor. Amor é revolucionário. Amor transforma, amor olha pelo sofrimento alheio. O amor resolveria nossos problemas.

Mas nesse novo ano, já que não posso mudar o mundo sozinha, eu desejo mudar o mundo ao meu redor. E desejo isso a cada um de vocês.Que cada um ame mais, reflita mais sobre suas ações e sobre seu papel na sociedade. Que cada um escolha ser uma ferramenta de luta pra um novo mundo possível. E que o conformismo e a apatia não anulem nossos objetivos e não façam parte do nosso 2014.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Por que ser jornalista?!

Às vezes, eu me pergunto o porquê do jornalismo. O que me motiva a trabalhar? O que me impulsiona, o que me fascina? O que faz com que eu me dedique muito mais do que as minhas obrigações empregatícias?

Lembro que uma das minhas motivações para a escolha do curso foi o gosto que tenho pela escrita e pela leitura. Porém, ao ingressar na universidade e refletir ainda mais sobre a minha profissão, percebi que aquilo não era, definitivamente, o que mais importava. É claro que o ato de ler e escrever sempre estarão atrelados ao jornalismo e é essencial gostar de se comunicar para exercer a atividade, mas é bem mais que isso que está em jogo.

A ideia de aprender e estudar coisas novas está presente também. A vontade de conhecer histórias de vida diferentes e de poder compartilhá-las com os outros é constante.  Mas arrisco dizer que o que me faz, a cada dia, decidir pelo jornalismo vai além.

Sabe aquela ânsia  quase infantil, aquele sonho de mudar o mundo? Pois é... Clichê, ingênuo, utópico e todo meu.  É claro que, com o tempo, percebemos que não vamos mudar o mundo. No entanto, podemos fazer o que está dentro das nossas possibilidades, o que está ao nosso alcance para influenciar minimamente, nem que seja os que estão ao nosso redor.

Reflito hoje e posso garantir: ser jornalista não é só o meu trabalho, é uma das minhas ferramentas de intervenção. É um dos canais que escolhi para buscar transformação. Apesar de tudo o que vejo fazerem de errado em nome da minha profissão, eu quero exercê-la da forma mais honesta possível e não quero jamais esquecer que o interesse público deve prevalecer. Ser repórter é bem diferente do que nos dita o mercado. Jornalismo é um serviço de caráter público e não algo inventado para beneficiar e defender os direitos de poucos. E é isso que eu quero defender e é isso que eu tento perseguir 

Convenço-me de que o que mais me impulsiona é a utopia, é o sonho. Sonho de escrever, de aprender, de contar histórias. Mas, principalmente, sonho de fazer diferente. De fazer mais e melhor.  Sou jornalista por paixão.  É através da minha atuação como repórter, com dedicação, com entrega, com humildade, que eu pretendo contribuir para a sociedade em que  vivo. Parece ingênuo, bobo? Que seja..é a minha verdade!

domingo, 11 de agosto de 2013

Meu paizão!

Hoje, quando fui dar os parabéns pelo dia dos pais, a gente se abraçou e ficou  pulando na cozinha. Sim, uma mulher de 27 anos e um senhor de 61, pulando em círculos na cozinha. E depois eu ainda subi nos pés dele e ele andou uns passos comigo cantando “ Bambalalão, senhor capitão, espada na cinta, sinete na mão!”



domingo, 4 de agosto de 2013

Saudosa Lancheria do Parque

Hoje, em uma conversa, um amigo falou sobre a  lancheria do parque, a famosa "lanchera" da rua Osvaldo Aranha, em frente ao Parque da Redenção, em Porto Alegre. Foi só eu escutar aquele nome  que senti uma saudade imensa.





Geralmente, os casais têm recordações em locais bonitos, mais pretensamente românticos e aconchegantes. Mas eu e o Edu adorávamos ir à lanchera. Se me perguntassem hoje os lugares que fazem parte da nossa história, com certeza, esse estaria no topo da lista.  Muitos dos nossos amigos nos encontravam lá. Era canja no inverno, suco natural no verão, almoço aos finais de semana. Sem falar dos xis e do cachorro quente. Acho que já comemos de tudo ali.

Lá, ainda servem café naqueles copinhos de vidro. Lá, dá pra ir de manhã bem cedo ou de madrugada, depois da festa ou da academia. Outro detalhe que torna aquele lugar ainda mais acolhedor são os garçons. Atenciosos, divertidos e falantes.  Um deles, contou-nos a história do filho, que era apaixonado por livros. Lembro que o Edu levou um de presente. Até hoje, quando retorno , sou recebida com um sorriso.

O modo como os garçons lidam com os pedidos me impressiona.   O lugar está quase sempre cheio e o vai e vem é constante. Ao atenderem as pessoas, eles já saem gritando para os que ficam no balcão. Xis galinha pra cá, suco de laranja pra lá, uma infinidade de pedidos confusos gritados pelos funcionários. À primeira vista, parece desorganização. O curioso, no entanto, é que nunca tive a experiência de ter um pedido esquecido ou trocado. Eles se entendem na bagunça organizada, que já é característica marcante do local.

A lancheria do Parque é sensacional.  Talvez eu goste dela pela capacidade que tem de agregar.  Lá, já encontrei artistas famosos, trabalhadores de terno e gravata e, também, pessoas muito simples. Gente de tudo que é jeito, de todas as tribos. Sozinhos ou em grupos, nas mesas ou nos balcões.  A lancheria é sinônimo de diversidade. É um dos ambientes mais democráticos que conheço.


 Nas férias de setembro, já sei: um suco de limão natural e um xis galinha com os amigos pra matar a saudade de um dos meus locais preferidos na amada Porto Alegre.

terça-feira, 25 de junho de 2013

São José do Norte e o "progresso"


Hoje foi um dia diferente. Dia de reflexão, de questionamentos, de aprendizado. Dia de conhecer histórias, de reforçar, pra mim mesma, a função social da profissão que escolhi. Dia de saber mais sobre uma realidade próxima, mas ao mesmo tempo desconhecida.

Fui a São José do Norte, cidade vizinha de Rio Grande, separada apenas pela Lagoa dos Patos. Município com 25 mil e 500 habitantes, menor que o Cassino. Lugar que tem a economia baseada na pesca e na agricultura e que ainda tem em seu povo a simpatia e o acolhimento do interior.

Dizem que São José do Norte está recebendo o progresso. O estaleiro previsto para o local já começa a se instalar, será um gigante. A região do cocuruto, afastada da área central, começa a ter seu cenário modificado. O campo dá lugar aos maquinários. A tranquilidade dos moradores que vivem na beira da lagoa é trocada pelo vai e vem de operários e veículos. E isso é apenas o início. Início marcado pela demolição de muitas casas, pois o progresso não pode ser barrado. A indústria naval brasileira precisa crescer. E quem está no caminho não tem a história respeitada, é pedra de tropeço para o desenvolvimento.

O terreno em que essas casas estão construídas pertence à União e, por isso, por mais que vivam lá há mais de cinco décadas, não existe possibilidade de terem a posse da terra. O fato é que por todo esse tempo lá moraram, a maior parte vivendo da pesca. Como quase todos os terrenos do norte, foram adquiridos sem escritura. Deixaram que fincassem suas raízes, que estabelecessem seus laços. Tudo bem, a terra é pública. Tudo bem, a indústria naval é importante. Mas eu pergunto: porque só agora dizem pra essas pessoas que a terra não é delas e que elas precisam sair? A resposta é simples: agora o interesse econômico se sobrepõe a qualquer trajetória de vida.

E aí eu converso com pessoas que moram há 10, 20, 50 anos nessas terras. Eu sinto o quanto elas amam o lugar em que estão,  o quanto pertencem aquele espaço. E eu vejo as máquinas e tento avistar o progresso. Mas eu falho nessa tentativa quando escuto Seu Pedro dizer que o seu terreno está com a família há cinco gerações. Eu sinto um nó na garganta quando ele diz que vive da pesca e não sabe o que fazer se for morar longe da lagoa.

Alguns moradores que vivem nessa região reclamam do valor da indenização que será paga pela empresa do estaleiro. Eles até entendem que devem sair, afinal, não querem barrar o tão prometido crescimento de São José do Norte. Porém, o valor que irão receber, dizem, não paga uma nova casa. Isso porque a especulação imobiliária por lá já chegou e a cidade sofre por falta de moradias. Os terrenos e as casas estão com preços exorbitantes.

Tudo bem, eu pondero. Talvez não se justifique deixar de construir um empreendimento desse porte por causa de algumas famílias. Às vezes, há de se usar a razão e não apenas o coração. Mas aí eu esbarro em outros poréns. O município é pobre. A população reclama da falta de médicos, do fechamento da maternidade do hospital, das obras do posto de saúde central e da hidrovia paradas, da infraestrutura das ruas, da falta de moradia. 

São José do Norte não tem rede de esgoto, não tem estradas decentes para escoamento de cargas, não tem uma boa travessia de lancha e de balsa. A possibilidade de aumento da arrecadação é visível através de impostos desse novo empreendimento, penso eu. Isso trará mais riqueza. No entanto, a administração municipal afirma que estuda a isenção parcial ou total de impostos por um bom período para que a empresa se instale. 

Um município pobre, que não se planejou em temos de infraestrutura, que terá sua população, possivelmente, dobrada quando o estaleiro passar a operar, ficará sem arrecadação de imposto para reverter em serviços?

Eu tento, eu juro, mas tenho dificuldade de enxergar o que vai ficar para São José do Norte. A minha impressão – que eu torço a todo custo para que esteja errada – é que a cidade sofrerá enormes e irreparáveis impactos sociais, culturais, ambientais. 

Isso é progresso? Sinceramente, não sei.