domingo, 11 de agosto de 2013

Meu paizão!

Hoje, quando fui dar os parabéns pelo dia dos pais, a gente se abraçou e ficou  pulando na cozinha. Sim, uma mulher de 27 anos e um senhor de 61, pulando em círculos na cozinha. E depois eu ainda subi nos pés dele e ele andou uns passos comigo cantando “ Bambalalão, senhor capitão, espada na cinta, sinete na mão!”





Tradicional? Não mesmo, meu pai não tem nada de tradicional. Para descrevê-lo, preciso fugir daqueles clichês que usam na escola.

Quando ainda não podia sair sozinha, levava-me aos shows. Lembro-me de um show do Papas na festa do mar em que ele dançava e cantava as músicas mais do que eu. No parque de diversões, quando eu era criança, ele andava comigo no enterprise, no Kamikase, na montanha russa. No supermercado, enquanto ele fazia compras de verdade, eu também fazia as minhas, pra minha casa imaginária. Quando saíamos andando pela rua, ele se escondia de mim e eu achava que tinha me perdido. Em seguida, reaparecia, com cara de criança arteira.  Lembro-me de algumas vezes em que ele apertou a campainha de casas alheias comigo. Até hoje, simulamos um jogo de vídeo game no carro.

Ele não brigava quando eu tirava nota ruim na escola, mas relembrava todo o conteúdo para poder me ensinar.  Quando eu chorava, ele dizia que da próxima vez eu iria conseguir. Quando eu tinha pesadelos, ele me acalmava. Se eu estava triste ou com medo, ele me abraçava forte e eu me sentia segura. Não lembro de ter escutado uma palavra de desestímulo vinda dele. Pelo contrário, ele é meu fã em cada pequena vitória. Quando comecei a escrever, lia todos os meus textos. E se tenho um ouvinte que está sempre ligado no FM Café, esse ouvinte é ele.

Em algumas situações, parecemos duas crianças. No verão passado, ainda tomamos banho de chuva. A gente fala bobagem, ele implica comigo e nos juntamos para implicar com a mãe. Fazemos piadas, rimos, de vez em quando dançamos pela casa. Ele vai ao cinema e ao teatro comigo.

Nunca consegui chamar meu pai de senhor.  Nunca mesmo. Tem gente que não entende muito bem e acha que é desrespeito. Nas brincadeiras, eu tiro sarro da cara dele, chamo de monga e dou gargalhada, mas isso só acontece porque ele é meu amigo.

Quando decidi ir estudar em Porto Alegre, não pensou duas vezes. Apesar da dificuldade financeira que é sustentar um filho em outra cidade, durante quase seis anos que estive lá, nunca ouvi uma reclamação. Pelo contrário, se faltava grana e eu me sentia culpada e ligava chorando, as repostas eram tranquilas, amáveis e amigas. Tudo em prol do meu sonho. E rindo dizia: “o que é um peido pra quem já está todo cagado?” (é, ele me ensinou a rir da vida...)

E depois de formada? A angústia do desemprego me deixava tão triste. Às vezes, sentia-me tão mal por recusar vagas que não tinham a ver com meu sonho. Nesses momentos, ele sempre foi o primeiro a dizer que eu poderia esperar mais um pouco, esperar por algo que não fosse de encontro aos meus ideais.

Meu pai talvez tenha sido o cara que mais me ensinou, ainda que não por palavras, como o machismo é idiota. Foi ele quem me ensinou que homem pode cozinhar, cuidar dos filhos, lavar louça, ajudar em casa. Foi ele quem me mostrou que homem também chora, diz eu te amo e é sensível. E foi ele quem me mostrou como se deve tratar uma mulher quando, por anos, dava-me flores e dizia que eu era especial.

Meu pai também me incentivou a ler. Toda vez que íamos à feira do livro, ele dizia: “pode escolher, livro não é gasto, é investimento!” Influenciou meus gostos e meu modo de ver o mundo. Se hoje eu tenho tanta vontade de mudar o que está errado, sei que isso vem dele.

Ele é o cara que discute política comigo, que fica indignado ao ver as injustiças, que me incentiva nas minhas loucuras de querer fazer reportagens investigativas. Até hoje, eu leio pra ele algumas das minhas matérias antes de irem ao ar, porque a opinião dele sempre será importante pra mim. Se eu gosto de MPB, de samba, de bossa nova, é culpa dele. 

E eu não herdei do meu pai somente os olhos e a boca grandes. Certa vez, em Porto Alegre, fui a uma loja comprar roupa e, quando sai, perdi a sacola. Liguei chorando, sentindo-me culpada por ter desperdiçado dinheiro. Ele, rindo, contou que uma vez tinha saído pra comprar uma calça jeans e esqueceu o pacote no cinema. Sim, a distração e o esquecimento são herança dele. 

Meu pai não é perfeito, eu sei disso. Mas os acertos e a dedicação superam qualquer defeito. Meu exemplo de honestidade, simplicidade, caráter, amor e respeito. Meu orgulho! 

Agradeço a Deus todos os dias por ter me dado esse pai,o melhor do mundo!

Um comentário: