sábado, 15 de setembro de 2012

O choro do recomeço

 
 
A chuva se misturava às lágrimas. Eram lágrimas guardadas há tanto tempo; alívio. Fazia três anos que não chorava. Desde que ele tinha partido. Ela foi proibida de sofrer pela ausência.

 



E assim passou os anos: sufocada. Não se permitiu chorar. Não achava certo sentir saudades por alguém que a feriu. Jogou as fotos fora. Rasgou todos os bilhetes, doou os presentes. Tudo o que tinha a marca daquela união foi aniquilado. Aniquilado também foi o seu coração, fechado para qualquer possibilidade de cura e de recomeço.

Por três anos tentou se enganar. Por três anos, fingiu não sentir saudade de quem outrora fazia seu coração cantar. E a cada dia desses três anos fingiu ser quem não era, fingiu não estar sentindo nada quando, a bem da verdade, sua alma urrava de dor.

Mas naquele dia nublado e chuvoso, sombrio como sua vida, ela se observou diante do espelho. As marcas do que tentava encobrir eram nítidas em sua pele. Seu rosto havia se tornado sem brilho. Por alguns minutos, ficou olhando seu reflexo. Aos poucos, as lágrimas foram descendo.

Quando se deu conta, estava aos prantos. Cada gota parecia desfazer o nó na garganta que a acompanhava por todos esses anos. Decidiu viver aquele luto negado. Ao perceber as sequelas daquele sufocamento, decidiu aceitar sua dor, sua angústia. Aceitou que, a despeito de todo mal que ele a havia feito, ela podia, sim, sofrer por seu abandono e desprezo. Ela tinha esse direito.

Não imaginava o que as lágrimas poderiam lhe trazer. Em vez de tristeza, colocaram-lhe um sorriso. Era tão bom não precisar mentir mais. Era tão bom poder colocar pra fora aquele choro reprimido, culpado por três anos de dias não vividos.

Saiu para rua. A chuva se misturou às lágrimas e ajudou a limpar a sua alma, a levar tudo aquilo que a impedia de ser feliz. Depois disso, sentiu uma vontade enorme de colocar um batom vermelho, pintar as unhas, arrumar os cabelos. Sentiu-se mulher novamente.

Foi assim que aprendeu a não sufocar seus sentimentos. Foi assim que percebeu que o melhor era tentar compreende-los, por mais inúteis e injustos que eles pudessem parecer. Foi assim que se livrou do passado. E com isso se tornou ainda mais humana e percebeu que estava pronta para reconstruir cada sonho perdido.

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